"Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária." C. Linspector

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Ao menino no ônibus

Eu poderia ter me sentado ao seu lado. Você me perceberia? Apesar dos fones e da leitura, me olharia de solaio?
Eu gostaria de recostar em ti, entre os seus ombros e pescoço. Seus olhos não mais entre janelas. Vem, afaga os meus cabelos com mãos de silêncio, com a respiração na ponta dos dedos. Vamos esquecer o engarrafamento e nos perder em nós, brincar de ser um do outro. Deixa eu entremear meus dedos na sua barba. Meus lábios roçariam na sua nuca e eu me afogaria nos seus cabelos.
Ah, menino do ônibus. Sobre o quê conversaríamos? Revoluções, domingos, o céu ou talvez o jogo do mengão no Maraca. A sua voz seria rasa ou viria de encontro ao meu plexo?
Na minha mente, esse encontro estava escrito para ser perfeito. Me abre a porta que eu me estendo na sua grama, aponto as minhas nuvens e chovo. Nós nos empapuçamos de nós e antes de você descer no próximo ponto seus olhos descem em mim e eu te beijo em uma despedida de cinema.

Você levantou e me viu. Te espero amanhã e quem sabe sento ao seu lado. Ou você ao meu lado, e eu prometo que tiro os meus fones e te reparo.

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