"Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária." C. Linspector

domingo, 25 de março de 2012

Diálogo

Desculpa vai, perdoa.
Que sou eu que sempre sofro,
sempre sangro na embriaguez

Não tenho culpa, vai.
Sou de paixões e devaneios.
Você pondera.

Desculpa,  mas sou eu ao lado dela no travesseiro

Você diz que é irracional,
que não tem moral.
Que árvore crescida e cultivada mantém raízes profundas.

Essa discussão não nos levará à lugar algum.
Você persiste com a razão,
e eu deixo o vazio.

(Continuemos essa nossa conversa
Não precisa ter futuro
Muito menos uma conclusão pacífica.
O diálogo cresce a nossa menina)


terça-feira, 20 de março de 2012

Ontem foi para sempre

No instante em que meus olhos pousaram em você meu sorriso se abriu. Foi como se tivesse esperado o dia inteiro - e eu nem sabia que aconteceria. Conversamos, rimos alto em meio a olhares lânguidos e displicentes.
O que veio em seguida... Bem, o que veio era natural, uma extensão instintiva do momento.
E eu me perdi no seu olhar. Entrelacei nosso dedos e fiz planos.
O seu sorriso aberto preencheu cada espaço, seu olhar era sentido em cada célula e além. Ele me aumentava, me confortava e acarinhava. Tudo vindo desses olhos negros e que me tinham por inteiro. O maior de tudo era que eu te sentia. Você me completava e eu podia passar o resto da minha vida ao seu lado. Ontem.
Eu nunca te enganei. Ontem era para sempre.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Quero.

"Quero amor do jeito que eu vejo no trabalho. Quero ser o centro do universo de alguém e quero que sejam o centro do meu. Quero que se sacrifiquem por mim e comigo. Quero...
Nossa. Pareço uma hippie louca. É muito cedo para tomar whisky?"

Addison Montgomery, Private Practice 5x16.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um noite. Duas palavras e o resto. (parte I)

O telefone tocou no andar de cima.
- É para você nega!
...
Ela arregalou os olhos, já era tarde em demasiado para alguém ligar, e no telefone do senhorio... Certamente haveriam reclamações. Ela jogou o penhoar sobre a fina camisola, pediu que a mais nova olhasse a criança no berço e saiu pela porta. Subiu correndo as escadas de madeira velha do velho sobrado - que rangiam a cada pisada forte, atravessou o longo corredor pontilhado de várias portas iguais, atrás de cada uma histórias de samba-canção. Quando o fone gelado do preto e velho telefone tocaram sua orelha, não precisou avisar, a voz saiu naturalmente do outro lado da linha.
- Quero te ver.
Primeiro o peso no peito. Depois a respiração e os ombros pesaram.
- É tarde, você enlouqueceu? - Tinha um quê de satisfação no tom da voz que ela tentava tornar imperceptível, em um duro exercício. - Onde você está?

- Em Copacabana, com uns amigos. Mas saio daqui agora, vou te buscar. Quero te ver.
...
- Não! Espera. Mas... não é hora. Não posso sair, estou praticamente ainda com a criança em meus braços. Acordada. E tem mais, por quê? Aconteceu alguma coisa?
- Eu só quero te ver. Que mal... Eu espero pelo sono do menor. Quando você poderá? Meia hora?

Naquele momento todo o seu corpo vibrava. A ponta da língua já tinha formulada e pronta a negativa. Sabia o que fazer, estava certa. Afinal, que disparate! O dia corria bem, penúltimo do ano. Estava fazendo os encaixes finais, últimos ajustes de pensamentos. Apreciou a calmaria que a semana lhe proporcionou. E ele sempre lhe trazia o oposto. Vendavais.
Mas houve um segundo, um milésimo talvez. Onde ela pestanejou e uma força oposta e muito mais perspicaz lhe passou pelas pernas, subiu pela espinha, deu uma banda na retidão e estava feito.
- Meia hora. Desço em meia hora.

Passou as mãos pelos cabelos, têmporas. Precisava de um banho. Já estava feito, pensava. E o que estava por vir já tinha cruzado a sua estrada outras vezes.